segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A Descoberta do Segundo Cérebro

Neurogastrenterologia: Um redescobrimento traz esperança para o futuro
(,,,) A neurogastrenterologia começou quando os primeiros pesquisadores determinaram que realmente existe um segundo cérebro no intestino. A principal descoberta que estabeleceu sua existência foi a demonstração  de que o intestino contém células nervosas que podem "ter autonomia"; ou seja, podem operar o órgão sem instruções do cérebro ou da medula espinhal

(,,,) Nenhum de nós descobriu a existência do segundo cérebro. O que fiz, com grande ajuda de colegas de todo o mundo, foi descobri-lo novamente, trazendo-o de volta à consciência científica. (...) Esse efeito já é o bastante, e logo trará alívio a milhões de pessoas que sofrem com o mau comportamento de um intestino rabugento.

A lei do intestino
Bayliss e Starling trabalhavam com cães. Isolavam uma parte interior do intestino de animais anestesiados e estudavam os efeitos da estimulação do intestino a partir de sua cavidade interna, simulando os efeitos que os componentes normais do intestino poderiam exercer sobre a parede intestinal. Em seus principais experimentos, Bayliss e Starling aumentavam a pressão na parte interior do intestino.

Sempre que sua pressão interna era elevada o suficiente, o intestino mostrava movimentos musculares que tinham o efeito de propelir seu conteúdo, de forma surpreendente, em uma mesma direção. Os movimentos propulsivos consistiam em uma onda coordenada descendente, de contração oral e relaxamento anal, que forçava o conteúdo intestinal na direção anal de forma implacável e inevitável.

Bayliss e Starling chamaram essa resposta do intestino a uma maior pressão interna de "a lei do intestino", hoje conhecida  como o reflexo peristáltivo (descreve o que o intestino está fazendo). Bayliss e Starling associaram corretamente a natureza coordenada da "lei do intestino" aos nervos.

Fizeram uma descoberta surpreendente ao cortar todos os nervos que entravam ou partiam das partes internas do intestino do cão que exibiam a "lei do intestino". Sabiam que se cortassem todos os nervos que saíam do intestino para os membros ou órgãos, os reflexos seriam perdidos.

O comportamento reflexivo em qualquer lugar, exceto no intestino, sempre envolve a participação do cérebro ou da medula espinhal. Outros órgãos não tomam decisões sozinhos; ao contrário, seguem inevitavelmente as instruções que recebem do sistema nervoso central.

Existe um sistema nervoso interno 
Bayliss e Starlind estavam conscientes de que existia um sistema nervoso complexo nas paredes intestinais. A existência desse sistema nervoso entérico foi descoberto  por Auerbach -  o intestino contém uma rede complexa, ou plexos, de células e fibras nervosas.

Ele funciona totalmente sozinho
Dezoito anos após Bayliss e Starling terem publicado pela primeira vez suas observações, Ulrich Trendelenburg colocou uma parte isolada do intestino de uma cobaia em um estreito tubo em forma de J. O intestino sobreviveu bem nesse meio artificial ( o aparato, dentro do qual órgãos vivos sobrevivem por várias horas, é chamado banho de órgão).Quando Trendelenburg soprou, através do tubo, para dentro do intestino, esse soprou de volta. Para soprar de volta, o intestino isolado tinha de responder com uma onda descendente de contração oral e relaxamento anal, imitando a "lei do intestino" de Bayliss e Starling. No laboratório de Trendelenburg  esse comportamento não ocorreu em um animal intacto. O cérebro, a medula espinhal e os gânglios sensoriais haviam sido descartados com o resto da cobaia. Não havia nada além do intestino dentro do banho de órgão. 

Trendelenburg  demonstrou que o sistema nervoso intrínseco do intestino realmente tem características semelhantes às do cérebro e seu complemento subserviente, a medula espinhal.

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In, O Segundo Cérebro. pp. 17 a 22.

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