Rebelião no Intestino: O cérebro de baixo
A voz do cérebro certamente se faz ouvir no intestino, mas não em linha direta com todos os membros da congregação entérica.
O sistema nervoso periférico escapa, de forma singular, dessa hierarquia funcional. Tecnicamente, o sistema nervoso entérico é um componente do sistema nervoso periférico, mas isso ocorre apenas na definição. Tudo faz parte do sistema nervoso periférico, desde que seja nervoso, e não parte do cérebro ou da medula espinhal. Ao contrário do restante do sistema nervoso periférico, entretanto, o sistema nervoso entérico não segue necessariamente os comandos que recebe do cérebro ou da medula espinhal; nem necessariamente lhes envia de volta as informações recebidas.
O sistema nervoso entérico pode, quando quiser, processar dados que seus receptores sensoriais coletam sozinhos, e pode agir com base nesses dados a fim de ativar uma série de células efetoras que controla sozinho.
O sistema nervoso entérico, portanto, não é escravo do cérebro, mas sim um espírito independente na organização nervosa do organismo. É um rebelde, o único elemento do sistema nervoso periférico que pode optar por não seguir as ordens do cérebro ou da medula espinhal.
Independência
O sistema nervoso entérico, portanto, é um local independente de integração e processamento neural.
Independência
O sistema nervoso entérico, portanto, é um local independente de integração e processamento neural.
É isso que o torna o segundo cérebro.
O sistema nervoso entérico jamais pode compor silogismos, escrever poesia ou se envolver em um diálogo socrático, mas continua sendo um cérebro. Controla seu órgão, o intestino; e se sua atividade for paralisada (como ocorre e milhões de pessoas cujo funcionamento dos nervos vagos é interrompido por meio de cirurgia), ele pode fazer tudo sozinho.
Quando o sistema nervoso entérico controla bem o intestino, o corpo se alegra. Quando o sistema nervoso entérico falha e o intestino funciona mal, silogismos, poesia e diálogo socrático parecem desaparecer no vazio.
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In. O Segundo Cérebro. pp.31 a 33
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In. O Segundo Cérebro. pp.31 a 33
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