quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O Segundo Cérebro - Prefácio

(...) Pense no intestino e seu sistema nervoso. O intestino não é exatamente o tipo de órgão que faz o pulso acelerar. Um poeta jamais escreveria uma ode ao intestino. Para ser franco, o consenso popular é que o cólon é uma parte repulsiva da anatomia. Sua forma é asquerosa, seu conteúdo repugnante e cheira mal. O intestino é algo primitivo, viscoso e semelhante a uma cobra. Fica enroscado dentro da barriga e desliza quando ela se movimenta. Em suma, o intestino é desprezível e semelhante a um réptil, de forma inteiramente diferente do cérebro, do qual emergem pensamentos sábios. O intestino com certeza é um órgão que só um cientista amaria. E esse cientista sou eu. Na verdade, sou neurobiologista.

O Intestino que pensa
Hoje, sabemos que existe um cérebro no intestino, por mais inadequado que possa parecer esse conceito. O horrível intestino é mais intelectual do que o coração e pode ter maior capacidade para "sentir". É o único órgão que contém um sistema nervoso intrínseco capaz de mediar reflexos na total ausência de informações do cérebro ou da medula espinhal.

O cérebro no intestino evoluiu no mesmo ritmo que o cérebro da cabeça.

(...) Temos mais células nervosas no intestino do que na espinha dorsal,  Temos mais células nervosas no intestino do que em todo o restante de nosso sistema nervoso periférico.

(...) O sistema nervoso entérico* é um centro de processamento de dados moderno e vibrante que nos torna capazes de realizar algumas tarefas muito importantes e desagradáveis sem esforço mental. Embora seja verdade que o cérebro pode afetar o comportamento do intestino, o intestino também é capaz de funcionar sem ouvir o cérebro.

O Magnetismo do não-descoberto
O destino do próprio sistema nervoso do intestino foi, até pouco tempo, cruel. Ignoradas, desprezadas e importunas, suas funções internas (tanto normais quanto anormais) escaparam da descoberta. A situação de nosso conhecimento do sistema nervoso entérico era, até pouco temo, positivamente medieval. 

Descartes disse: "Penso, logo existo", mas ele só o disse porque seu intestino o deixou. O cérebro do intestino tem de funcionar direito ou ninguém se dará ao luxo de pensar. Ninguém pensa direito quando a mente está voltada pra o banheiro.

Aqui está um novo campo, um novo horizonte e uma nova ciência. É atraente. Para mim, a presença de um antigo segundo cérebro no intestino não é simplesmente matéria científica, é também uma história intrigante e surpreendente de descoberta que quero mostrar ao mundo.

(...) Fiquei envolvido em uma guerra científica com relação ao sistema nervoso entérico e em seu conteúdo de serotonina.

Este livro nos conta a história do segundo cérebro.

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In, O Segundo Cérebro. pp. 9 a 14.
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* Sistema nervoso entérico faz parte do sistema nervoso autônomo. O sistema nervoso entérico é uma rede de neurônios que integram o sistema digestivo (trato gastrointestinal, pâncreas e vesícula biliar)

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