segunda-feira, 30 de julho de 2012

Coreografia religiosa


     Nasci na primeira metade do século XX. Naquela época os religiosos/as da Igreja Católica Apostólica Romana, usavam vestes próprias: as batinas e os hábitos. 
      
     As missas eram realizadas em latim, com o oficiante em um altar de costas para os fiéis. 
      
     Nem pensar em receber a Santa Eucaristia sem antes passar pelo confessionário. 
      
     A igreja era um lugar de paz, meditação consagração e agradecimento. Um órgão acompanhava uma cantora lírica e um coral na interpretação dos hinos sagrados, que penetravam fundo em nossos corações. 
      
     Era o ritual da fé. Saíamos do templo sagrado certos do perdão alcançado e de alguma graça pedida e recebida. 
      
     Os tempos agora são outros. A sensação que fica aos mais antigos que frequentam a moderna igreja católica, é que foi passada uma borracha nos rituais de antigamente. A fé agora precisa de amuletos. 
      
     Estas mudanças, dizem os entendidos, foram feitas com o objetivo de captar mais ovelhas para o rebanho do Senhor. Muitas estavam sendo atraídas para outros pastos. 
      
     Entretanto, na prática, não foi bem isso que aconteceu. As estatísticas e os serviços da igreja comprovam que, mesmo assim, esse rebanho foi reduzido. 
      
     Das inúmeras inovações introduzidas no modernismo da religião católica, quero citar apenas uma: a coreografia religiosa. Dizem que ela age como fator agregador da fé. Tenho minhas dúvidas. 
      
     Infelizmente, o culto religioso dos tempos modernos, se assemelha muito a um grande programa de auditório. Todos dançam, cantam e batem palmas. 
      
     No entanto, a motivação de quem sai de casa para assistir a uma missa é totalmente diferente daquele que procura um prêmio em um auditório do Gugu, Faustão, Sílvio Santos e tantos outros. 
      
     Além de produzir a desconcentração dos fiéis no momento do encontro espiritual tão procurado, tentam homogeneizar os sentimentos das pessoas. 
      
     A música eletrônica, com bateria e puxador de hinos, deixa na saudade o som dos antigos órgãos, que funcionavam como chave para abrir comportas das nossas emoções. 
      
     Será mesmo que essa recente coreografia religiosa, que transformou o espaço de orações em um imenso auditório de programa de diversão, era para evitar a evasão de fiéis? Não creio. 
      
     Não creio que a coreografia religiosa implantada, tenha aumentado a fé dos ferrenhos seguidores das palavras do Senhor. Pelo contrário, foi uma ducha fria na fé de muitos. 
      
     Se até hoje acreditamos nos dogmas da igreja, por que acrescentar a coreografia inibidora? 
      
     Temos muito ainda que analisar. Religião para mim é questão de fé. E a fé não precisa de artifícios para ser incorporada ou mantida.


Gabriel Novis Neves , in http://www.24horasnews.com.br/
 24/07/2012 - 13h40


Gabriel Novis Neves é médico.

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