quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Poder do Perdão - Resiliência


Perdão: os benefícios que a resiliência traz para nossa saúde física e mental


Fazer as pazes com quem nos magoou e conosco é o segredo para o equilíbrio interior (Ágata Székely)
  
Muitas vezes não perdoamos porque acreditamos que o perdão contribui para a injustiça. Quem causa dano não merece perdão, pensamos. Se perdoarmos, voltarão a nos ferir, vão se aproveitar da “nossa nobreza”. Às vezes, o desgosto com os prejuízos e as ofensas não se reduz nem com o passar do tempo. Podemos ficar enfurecidos com nossos pais pelos erros cometidos durante a nossa infância, com quem já abusou da nossa boa-fé, com aquele parente que nos chamou de “gorda” (ou assim deu a entender) num Natal há dez anos.

Não perdoamos ninguém. Nem sequer a nós mesmos.

Guardamos a ferida dentro da alma como um tesouro precioso, para tirá-la da memória de vez em quando e fitá-la, absortos, como se fosse um álbum de fotografias, uma joia de vitrine. Nesse momento, passamos outra vez pela mente o filme triste do episódio imperdoável e o revivemos. O desgosto com o passado se alimenta de grandes porções do presente. Eis aí o rancor.

Na verdade...

... Por que valeria a pena perdoar?

Só por uma questão religiosa? Por puro altruísmo? Em um mundo tão absolutamente cruel em tantas ocasiões, há alguma questão que seja impossível de desculpar?

As informações a respeito disso são ricas e variadas. Os especialistas se dedicaram a estudar cientificamente o perdão e descobriram alguns fatos bastante surpreendentes.

Para conhecer e dominar o perdão, primeiro temos de saber de que “matéria” ele é composto, o que é verdadeiramente e o que não faz parte desse sentimento transformador.

Do que é feito o perdão?

Fred Luskin é conselheiro, psicólogo da saúde e diretor do Projeto do Perdão, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

Em seu guia “O Poder do Perdão”, que reúne casos e estudos tirados desse programa, Luskin explica que os problemas não solucionados são como aviões que voam dias e semanas sem parar e sem pousar, consumindo recursos que podem ser necessários em caso de emergência.

“Os aviões do rancor se convertem em fonte de estresse e, muitas vezes, o resultado é um choque”, afirma Luskin. “Perdoar é a tranquilidade que se sente quando os aviões pousam.”

O especialista explica que perdão não é aceitar a crueldade, esquecer que algo doloroso aconteceu nem aceitar o mau comportamento. Também não significa reconciliar-se com o agressor.

“O perdão é para nós, não para quem nos ofendeu”, diz Luskin.

“Aprendemos a perdoar como aprendemos a chutar uma bola. Minha pesquisa sobre o perdão demonstra que todos têm a capacidade de se incomodar e a usam sabiamente. Não desperdiçam energia valiosa enredando-se em fúria e dor quando nada se pode fazer. Ao perdoar, admitimos que nada se pode fazer pelo passado, e isso permite que nos libertemos dele. Perdoar ajuda os aviões a pousar para que sejam feitos os ajustes necessários.”

Segundo Luskin, o perdão serve para relaxarmos e não significa que o agressor “se dê bem”, nem que aceitamos algo injusto. Ao contrário, significa não sofrer eternamente pela ofensa ou pela agressão.

Mas, e se a agressão tiver sido grave demais?
A lição de Kim
Era 8 de novembro de 1972, durante a guerra do Vietnã. A família de Kim Phuc tentou proteger-se num templo próximo quando ouviu o barulho dos aviões americanos. O refúgio não foi suficiente contra as bombas de napalm que caíam do céu, e tudo explodiu em chamas.
Nick Ut, correspondente da Agência de Notícias Associated Press, tirou nesse momento a foto tristemente famosa que percorreu o mundo todo. Ali estava Kim, aos 9 anos, nua e em prantos, com grande parte do corpo coberta de queimaduras de terceiro grau. Apesar disso, a menina sobreviveu. Passou por 17 cirurgias e, depois de ser usada durante anos como símbolo da resistência do seu país, pediu asilo no Canadá. O mais notável de sua história é que Kim perdoou o capitão John Plummer, oficial que ordenou o bombardeio de sua aldeia.
Em “El Don de Arder” [O dom de queimar], Kim conta à jornalista Ima Sanchís que, ao encontrar-se com o militar num evento, não o esbofeteou. Preferiu abraçá-lo: “A guerra faz com que todos sejamos vítimas. Eu, quando menina, fui vítima, e ele, que fazia o seu trabalho de soldado, também foi. Tenho dores físicas, e ele tem dores emocionais, que são piores do que as minhas.”
Kim capitalizou suas antigas feridas de forma positiva. Hoje, viaja pelo mundo em campanha pela paz e é presidente da Fundação Kim Internacional, dedicada a dar assistência a vítimas de conflitos armados.
Mas qual o segredo para agir com tanta integridade moral?

Resiliência, a palavra mágica (sobre Resiliência, vide http://soscriancaeadolescente.com.br/2011/a-rosarinha/)


Boris Cyrulnik sofreu com a morte dos pais num campo de concentração nazista, do qual conseguiu fugir quando tinha apenas 6 anos. Depois que a guerra acabou, ele ficou vagando de um campo a outro até chegar a uma fazenda controlada por uma instituição de caridade.

Durante sua permanência, os vizinhos lhe ensinaram o amor pela vida e pela literatura. Mais tarde, ele decidiu ser médico e estudar os mecanismos da sobrevivência.

Hoje é psiquiatra, neurologista, escritor, psicanalista e especialista em resiliência, um conceito psicológico que define a capacidade de superar as adversidades e ser forte durante as crises. 

“A resiliência é o antidestino”, diz Boris. “Dá trabalho, não é fácil, mas é um espaço de liberdade interior que permite não se submeter às feridas.”

Quem consegue superar tragédias ou sair de períodos difíceis de dor emocional pode abandonar o papel de vítima e começar uma vida nova, como Boris e Kim. Você já se perguntou por que algumas pessoas, oprimidas pelo desamparo na infância, caem na delinquência e se tornam agentes de agressão, ao passo que outras se recuperam, tornam-se pessoas de bem e são felizes, fortes, prósperas e bem-sucedidas? A resposta é a resiliência e, para consegui-la, o perdão é um dos ingredientes necessários.

De acordo com a psicoterapeuta Rosa Argentina Rivas Lacayo, presidente da Associação Latino-americana de Desenvolvimento Humano e da Associação de Orientação Holística do México, “sem perdão não podemos crescer nem ficar mais fortes com a adversidade. Também não conseguiremos ser flexíveis e resilientes. Algumas pessoas ‘cozinham’ a dor em fogo brando para mostrar ao mundo como foram maltratadas, e não querem perceber que assim se prejudicam.

Ao mundo, não interessa o nosso passado, só o que somos capazes de fazer e realizar agora. Quando nos apegamos à dor antiga, a autocomiseração embota a capacidade de realizar e, quando assumimos o papel de mártires, ficamos à espera de que alguém resolva milagrosamente a nossa vida.”

Para Rivas Lacayo, o perdão nos ajuda a reconhecer e admitir que somos frágeis e que não precisamos esconder essa fragilidade. Quando nos tornamos conscientes dos nossos limites, evitamos que a experiência se repita.

 Não é pouco, porém há mais: e se houvesse...

Provas científicas da utilidade do perdão? O perdão como proteção contra as doenças.


Além da saúde espiritual, existem várias provas de que deixar para trás a hostilidade protege a saúde física. E não é metáfora nem “modo de dizer”. Um estudo chamado Perdão e Saúde Física, realizado pela Universidade do Wisconsin, mostrou que aprender a perdoar pode ajudar indivíduos de meia-idade a evitar doenças cardíacas. Nessa pesquisa, foi descoberto que, quanto maior a capacidade de perdoar, menos problemas nas artérias coronárias surgem no decorrer da vida. Por outro lado, quanto menor a capacidade de perdoar, mais frequentes os episódios de doenças cardiovasculares.

Em relação à recordação das feridas, eis aqui outra informação importante: uma pesquisa indicou que pensar cinco minutos em algo que provoca agitação, raiva ou desgosto pode diminuir a variabilidade da frequência cardíaca (VFC), parâmetro da saúde do sistema nervoso que mostra a flexibilidade do sistema cardiovascular.

Para enfrentar e reagir ao estresse em boas condições o coração precisa de flexibilidade. O mesmo estudo mostrou que esses cinco minutos de pensamento negativo desaceleram a reação do sistema imunológico, que defende o organismo.

Os benefícios do perdão (tanto os que protegem o corpo quanto os que aliviam e “limpam” a alma) não se aplicam só aos outros, e também a nós mesmos, quando, apesar dos erros e culpas, somos capazes de nos perdoar e deixar de nos sentir merecedores de castigo. Perdoar não é esquecer nem persistir no erro. É começar de novo, com a experiência adquirida, sem os rancores a sobrevoar e confundir as possibilidades do presente.

Assim como o amor, o perdão não é al­go que se “dê” ao outro, e sim, um pre­sente vital que damos a nós mesmos.
___ 
( Recebido por e-mail de Eléia Abreu )

Um comentário:

  1. Amada boa tarde, que Deus esteja ao seu lado. Excelente o conteúdo deste artigo. Que saibamos exercer o "Perdão', parece fácil, entretanto, difícil, porém não impossível. Vamos refletir nesta semana Santa, no Criador, que derramou seu sangue por nós e a todos perdoou. Como se diz, morreu de braços abertos, para não ficarmos de braços fechados. Obrigada por disponibilizar em seu site esta obra prima. Bjs.Jô.

    ResponderExcluir