segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Luxúria (Pornéia)


A Luxúria (fornicação) é o uso patológico que o homem faz da sexualidade (pensada por Deus de forma positiva). Ao longo da história, esse aspecto positivo da sexualidade vem sendo esquecido. No Antigo Testamento, era característica das religiões pagãs que o sexo fosse algo divino. Todos os povos que cercavam Israel possuíam deuses do amor e da fertilidade. Dessa forma, não era raro que o culto das religiões pagãs encontrasse expressão erótica na prostituição sagrada e no primitivismo de símbolos fálicos. No Novo Testamento, Jesus não reage ao pecado como um teólogo liberal, mas, com misericóridia ao dizer à mulher apanhada em flagrante adultério: De agora em diante não peques mais (Jo 8,11).

A vontade de Deus é que sejais santos e que vos afasteis da imoralidade sexual (pornéia). Saiba cada um de vós usar o seu vaso (skêuos - referindo-se ao corpo ou à esposa) com santidade e com honra. Sem se deixar levar pela concupiscência, como fazem os pagãos que não conhecem a Deus (1Ts 4,3-5)

Ainda hoje, propala-se que a Igreja possui uma atitude negativa quanto à sexualidade. Como explicar então, a defesa da Igreja ao considerar a união sexual entre marido e mulher um sinal sagrado, um sacramento. A Igreja defende o nascimento, enquanto os "globalistas" defendem o controle de natalidade e o aborto. Santo Agostinho - considerado como avesso ao sexo (erotofóbico), nos deixou os seguintes ensinamentos:

NÃO É CONTRA O CORPO - Diante da opinião platônica (à época), de que o corpo aprisiona a alma e que esta prisão é a origem dos males da humanidade, Santo Agostinho responde que a causa não é o corpo mas o pecado da alma. A corrupção do corpo não é a causa, mas o efeito do pecado. Ao discordar de Platão, afirmou: foi a alma quem pecou e prejudicou o corpo, por isto agora o corpo está corrompido. No caso da luxúria, o problema não está no corpo. O corpo em si mesmo é bom e belo, mas devido à alma estar enferma, ela arrasta o corpo para o mal.

A luxúria não é um vício dos corpos dotados de graça e de beleza, mas da alma pervertida que ama os prazeres corporais.

NÃO É CONTRA O SEXO - Santo Agostinho não tinha dúvidas de que o prazer carnal existia no paraíso antes do pecado. Com um total realismo Santo Agostinho admite que se não houvesse o prazer do sexo, não seria possível nem mesmo a preservação da humanidade. Na feliz condição em que o homem se encontrava no paraíso, o prazer pudesse ser ainda maior, vez que os sentidos estariam, ainda, íntegros, e a alma estaria ainda mais presente para poder senti-lo. O prazer físico existiria mesmo sem a ocorrência do pecado. A diferença estaria no fato de que ele seria guiado pela ordem. O homem em ordem é o homem voltado para Deus. Dessa forma, se o homem não tivesse pecado, tudo em sua natureza (inclusive o prazer), estaria em sintonia com Deus. Não haveria a batalha entre carne e espírito que a nossa experiência e a Revelação infelizmente nos atestam. Se não houvesse pecado, a sexualidade humana estaria ordenada para o amor (caritas).

DESEJO DESORDENADO - Santo Agostinho condena a concupiscência (desejo desordenado) que está na raiz da luxúria. Em virtude do pecado original, foi instalada uma desordem em nossa capacidade de desejar. O homem se esquece de Deus e começa a preferir os bens deste mundo. Essa desordem é causada por uma espécie de fraqueza, d einfermidade. Não se trata de algo que é acrescentado à natureza humana, mas de algo que lhe foi tirado. Por causa do pecado, a força interior do homem diminuiu.

SEXUALIDAE: USO E ABUSO - A pornéia pode ser definida como o abuso da sexualidade. A função sexual foi criada por Deus como finalidade. Ir contra a finalidade que está inscrita no próprio ato seuxla ´eum abuso, um mau uso (pornéia, luxúria, fornicação). Qualquer que seja o nome dado a esta realidade patológica é transformar o prazer na finalidade última do sexo, ou seja, o homem erra o alvo e perverte a vontade de Deus. Se desejamos compreender o desígnio de Deus sobre a sexualidade, temos que pensá-la sempre no âmbito do matrimônio, e nele encontra a sua única realização sadia.

DESORDEM NAS RELAÇÕES - Acometida da doença da luxúria, a pessoa não vê mais o seu centro em Deus, e sim nas suas funções sexuais. O luxurioso torna-se ex-cêntrico (descentrado, fora de si, alienado). A pessoa curada é aquela que é fiel ao seu próprio ser: fiel a sim mesma. A luxúria destrói esta fidelidade de uma forma toda especial. Quando o homem impuro tem desejos, ele sempre deseja tendo a si mesmo como ponto de referência, está sempre disperso, distraído, fora da realidade, por causa de seu desejo ilusório. Isto faz com que a função sexual ocupe no homem um lugar desmesurado, até mesmo exclusivo. A pessoa vai, aos poucos, substituindo o amor pelo desejo bruto e instintivo. As faculdades da alma são submetidas ao instinto e o homem se torna semelhante a um animal.

DOENÇA ESPIRITUAL - Não é o sexo que constitui um pecado, mas o fato de o homem realizar o sexo separado do espírito. O sexo não é finalidade em si. O ato sexual humano, por sua natureza, precisa ser integrado num movimento total do homem: corpo, alma e espírito. A sexualidade desregrada conduz o luxurioso de queda em queda, de abismo em abismo, até chegar ao absurdo do sexo sem prazer...
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Pe.Paulo Ricardo, in "Um Olhar que Cura".

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