quinta-feira, 11 de março de 2010

Santo Agostinho (354-430)


O cristianismo estava consolidado nessa época: embora tivesse apenas quatrocentos anos, era considerado a verdade irrefutável. Apesar disso, Santo Agostinho, que nasceu no norte da África, numa cidade chamada Tagaste, nem sempre foi cristão. Fez os primeiros estudos na cidade natal e, com a ajuda de um amigo, foi para Cartago, aos dezesseis anos, completar os estudos superiores. Não foi um bom aluno. Na juventude, detestava estudar grego. Interessou-se por filosofia ao ler uma obra de Cícero. Quando criança era cristão, mas depois passou por outras religiões, como a dos maniqueus, que formavam uma seita e dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas e luz, espírito e matéria. Acreditavam que com o seu espírito, o homem pode transcender a matéria. O maniqueísmo contém uma visão dualista radical, bem e mal são tomados como princípios absolutos. Posteriormente, Agostinho combateu essa doutrina, que foi criada por Manes. De início ele recusava a ler a Bíblia, por considerá-la vulgar. Teve um caso de amor, envolto em paixões mundanas, e nasceu um filho, que faleceu ainda adolescente. Com vinte anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento de duas famílias. Foi professor de retórica em Cartago, mas depois mudou-se para Roma. Sua mãe foi contra a mudança e Agostinho teve de enganá-la na hora da viagem. De Roma foi para Milão, lecionar retórica. Muito influenciado pelos estóicos, por Platão e o neoplatonismo, também estava entre os adeptos do ceticismo. Abandonou o maniqueísmo, que critica. Converteu-se então à fé cristã, depois de conhecer a palavra do apóstolo Paulo, e batizou-se aos trinta e dois anos de idade. Desistiu do cargo de professor e voltou a Tagaste, onde fundou uma comunidade monástica, disposto a fundamentar racionalmente a fé, como foi comum na Idade Média. Mostrou que, sem a fé, a razão não é capaz de levar à felicidade. A razão, para Agostinho serve de auxiliar a fé, esclarecendo e tornando inteligível aquilo que intuímos. Ele tinha tomado contato com o pensamento neoplatônico onde a natureza humana contém parte da essência divina. Demonstrou que há limites para a racionalidade. Receberemos um saber que está além do natural. Com o cristianismo, uma luz inundou seu coração, sua alma encontrou a paz. Virou vigário aos trinta e seis anos, praticando a vida ascética. Santo Agostinho escreveu Contra os Acadêmicos, direcionado à filosofia cética e expôs a teoria de que os sentidos dizem algo verdadeiro. O erro provém do juízo que fazemos das sensações, e não delas próprias. A sensação não é falsa, o que é falso é querer ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito. Virou Bispo de Hipona. Agostinho ficou conhecido por “cristianizar” Platão, fazendo vários paralelos entre a parte espiritualista dele (que diz existir um mundo transcendente) e as Sagradas Escrituras. Faz a distinção entre o corpo, sujeito à sorte do mundo, e a alma, que é atemporal, e com a qual se pode conhecer Deus. Antes de Deus ter criado o mundo a partir do nada as Idéias eternas já existiam na sua mente. Deus é a bondade pura. Ele já conhece o que uma pessoa vai viver antes dela viver. Assim, apesar da humanidade ter sido amaldiçoada depois do pecado original, alguns alcançarão a verdade divina, a salvação. Isso depende do uso que fazemos do livre arbítrio, a faculdade que o indivíduo tem de determinar de acordo com a sua própria consciência a sua conduta, livre da Divina Providência, enquanto está vivo. Seria o ato livre de decisão, de opção. Durante um diálogo, Agostinho chega a conclusão que o mal não provém de Deus, mas sim do mau uso do livre arbítrio. De fato, para ele não existe mal, apenas a ausência de Deus. (com isso ele refuta de vez a doutrina dos maniqueus). Essa teoria encontra-se no livro O livre arbítrio. Com uma vida errada, a alma fica presa ao corpo, porém a relação correta é a inversa. Os órgãos sensoriais sentem a ação dos elementos exteriores, a alma não. Deus é a fonte dos conhecimentos perfeitos e não o homem. A experiência mística leva à iluminação divina. Assim se chega às verdades eternas, e o intelecto então é capaz de pensar corretamente a ordem natural divina. A unidade divina é plena e viva, e guarda a multiplicidade. O amor de Deus é infinito. A graça e a liberdade complementam-se. Na obra a Cidade de Deus, Agostinho faz oposição entre sensível e inteligível, alma e corpo, espírito e matéria, bem e mal e ser e não ser. Acrescenta a história à filosofia, interpretando a história da humanidade como o conflito entre a Cidade de Deus, inspirada no amor à Deus e nos valores que Cristo pregou, presentes na Igreja, e a Cidade humana, baseada nos valores imediatos e mundanos. Essas cidades estariam presentes na alma humana, e no final a Cidade de Deus triunfaria. Outra obra importante são as Confissões, que é autobiográfica. Essa obra faz dele um precursor de Descartes, Rousseau e o existencialismo. Acredita na verdade contida nos números, que fazem parte da natureza. (consciencia.org)
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Admiradora de Santo Agostinho...

2 comentários:

  1. Com o devido respeito relativo a convicções religiosas, mas permite-me discordar do pensamento: "Mostrou que, sem a fé, a razão não é capaz de levar à felicidade", a razão é um desassossego da mente pois está em permanente dúvida e a fé é uma busca de serenidade e uma calmia para a mente, a felicidade é algo abstracto porque enquanto há quem a "consiga" em desassossego outros há que apenas a conseguem num estado letárgico; na minha opinião o erro das religiões ( desde as judaicas incluindo as cristãs, islâmicas, budistas) é prometerem um paraíso algures de plena felicidade, como se todos a almejassem da mesma maneira...
    O meu espírito de desassossego erege sérias dúvidas, mas não passa da opinião dum simples mortal terreno que vale o que vale...e não pretende demover ou beliscar a fé de ninguém.
    Beijos

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  2. Meu prezado amigo! Seus comentários acrescem nos parcos conhecimentos que temos. A intenção é essa, provocar a discussão, respeitando a opinião e crença de cada um...lindo dia! bjs

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